Montanhas
Disponível em A6 e A5
[O Espaço Telúrico] se abre ao homem. Ele nos chama na forma de encantadores picos ou de atraentes subterrâneos. O relevo, a altitude, as escarpas despertam o desejo da escalada como libertação, a impaciência de vencer o obstáculo, de pisar na neve intocada, de dominar a planície ou o vale com uma visão panorâmica. A montanha responde a uma geografia ascensional da alma, a uma vocação pela 'elevação' e a pureza. "minha vocação", diria Hölderlin, "é de cantar aquele que é mais alto que eu". O homem demanda à montanha um simbolismo da altura moral, ao mesmo tempo que a satisfação de uma vontade de escalar e ascender. Para os hindus, as geleiras cintilantes do Himalaia sustentam o trono inacessível de Shiva. Para Hölderlin, a pureza radiosa de Deus manifesta sua glória na alta montanha: "Os cimos de prata brilham ao alto com uma calma magnificante, a neve deslumbrante se enche já do esplendor de rosas, e, mais alto ainda, acima da luz habita o Deus puro, o Deus bem-aventurado que desfruta do folguedo dos raios. Ele vive só o e silencioso, e mostra o esplendor do seu rosto". Ao maravilhamento de Hölderlin se opõe a vontade de Nietzche, áspera e dura como um desafio: "Uma vereda que subo com insolência, uma vereda má e solitária, uma vereda de montanha criada sob o desafio dos meus passos". Nosso século multiplicou os meios de satisfazer essa necessidade agressiva de se medir o espaço telúrico , as arestas e os cimos, os pendentes nevados e as geleiras. O alpinismo não é somente um esporte levado às vezes até a temeridade. Ele é também, nessa mesma paixão, um conhecimento interior à ação, um conhecer pelo agir, uma apreensão da Terra como espaço telúrico, através do esforço, da conquista e do perigo. O telurismo foi, com frequência, ao longo da história aliado do homem na afirmação da sua liberdade.
Eric Dardel - O Homem e a Terra